História da Maternidade
Parece que a obra especial de protecção e defesa da mulher grávida terá tido início no ano de 1775 após o terramoto que destruiu mais de metade da cidade de Lisboa.
Um dos edifícios destruídos, não só pelo terramoto mas também pelo incêndio subsequente, foi o hospital de Todos os Santos, tendo sido os seus enfermos transferidos para o edifício do Colégio de Santo Antão, principal casa dos Jesuítas, que lhes fora confiscada, com todos os outros bens, em execução do decreto Pombalino que do reino os expulsara.
Painel de azulejos representando o antigo Hospital Real de Todos os Santos
O edifício do Colégio de Santo Antão viria a ser convertido no Hospital Real de São José, em memória do monarca que lhe facultou tão amplas instalações. Das nove enfermarias de mulheres, existentes neste hospital, uma foi destinada a grávidas e puérperas. A referida enfermaria, que foi chamada de Santa Bárbara, tinha quarenta e duas camas e situava-se num extenso corredor interior, comprido e estreito, mal iluminado e deficientemente ventilado. Mesmo com péssimas condições aí se ministravam aulas de parto.
Anos mais tarde a enfermaria de Santa Bárbara era transferida para um espaço mais amplo e arejado, num andar superior do mesmo edifício, ficando com cinquenta e cinco camas. A melhoria de condições limitou-se à existência de luz e ar que entravam pelas janelas. Foi neste espaço que o professor Alfredo da Costa, com outros grandes mestres, distribuíram pelas assistidas e alunos o seu saber. Com o decorrer do tempo as deficiências iam-se agravando desde as inadequadas instalações à carência de muito material indispensável ao bom funcionamento da enfermaria de Santa Bárbara.
Antigo Laboratório - MAC
Em 1906, como director da maternidade de Santa Bárbara, Alfredo da Costa não se cansava em vão de pedir melhoramentos para esta ao Enfermeiro – Mor dos Hospitais, ao tempo o médico Curry Cabral, amigo e companheiro de consultório de Alfredo da Costa.
Desesperado por não conseguir melhorar as condições indignas em que a grávidas e puérperas viviam na Maternidade, elaborou exaustivo relatório, onde na sua introdução começava por questionar "Maternidade ou antecâmara de um inferno feminino?" que dirigiu ao Conselho da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, mesmo sabendo-se sujeito à malquerença "de quem de direito".
Ao fim de anos de luta Alfredo da Costa parecia ter tido eco do seu enorme esforço na construção de uma Maternidade ao ver inscritas verbas para a sua construção no Orçamento de Estado; ter sido escolhido o local da sua construção; ter sido feito o cálculo de despesas assim como o anteprojecto da construção mas, apesar de tudo isto, infelizmente não se veio a concretizar a construção da Maternidade.
Antiga Sala - MAC Teve conhecimento da autorização dada pelo Governo, pela lei de receita e despesas, para o exercício de 1904 – 1905, publicada no Diário do Governo nº 267, de 24 de Novembro de 1904, para realizar com a Caixa Geral de Depósitos um empréstimo de 300 contos de reis, amortizável em 30 anos, para obras de beneficiação de hospitais, especialmente a adaptação do extinto convento de Santa Marta a um hospital para tratamento de doenças venéreas e a apropriação do antigo edifício da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa a uma Maternidade.
Mais uma vez, apesar dos esforços desenvolvidos pelo professor Alfredo da Costa, não se viria a concretizar o seu sonho uma vez que a totalidade da verba viria a ser dispendida na construção do hospital para doenças venéreas, hoje Hospital de Santa Marta.
Em 2 de Abril de 1910 falecia o ilustre professor, sem ter visto realizado o sonho que acalentava desde 1898, ano em que assumiu a regência da cadeira de Obstetrícia da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, para o qual sempre com tanta dedicação e entusiasmo trabalhara. Em 15 de Maio de 1910, amigos e admiradores formam uma comissão de homenagem ao professor Alfredo da Costa, que outra não podia ser do que a efectivação do sonho de toda a sua vida. Após vários reveses, o sonho do professor Alfredo da Costa viria a ser realidade em 5 de Dezembro de 1932.
mcrd
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